Puxa a si a manta que a separa das bátegas de água e do frio. É domingo e o céu castiga-lhe as asas mortas. Não consegue sequer elevar os braços ao céu para pedir clemência. Passam mães e filhos e gente com ramos de flores e presentes. Vão com a pressa de quem tem um encontro marcado com a vida e com a ternura.
Ela começa a contar pelos dedos os filhos que teve. Imagina-os arrastados pelas circunstâncias, talvez tão afortunados como ela.
Foram saindo de casa um a um. Quando o pai morreu, quiseram vender o abrigo familiar. Para criarem os seus filhos, diziam, e a vida é mesmo assim. Ela sabia.
Quando a parte que lhe coube da casa desapareceu, deixou de poder pagar o quarto na casa da Adília.
Nenhum filho se importou e ela também não. Estranhou a primeira noite, chorou na segunda e em todas as outras noites. Se não havia chuva, era uma bênção dos céus.
Quando lhe voltava à memória o nascimento de cada filho, conseguia ser feliz.
Mas, nos últimos tempos, só tinha aquela manta a que sempre chamara sua, memória dos dia de abrigo, memória de algum amor, para obter conforto. Era Dia da Mãe e ela só gostaria de saber que um deles, ou alguém, se recordaria dela nesse dia.
Ou noutro dia qualquer.
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