21.6.25

Matéria


Esta noite, poderias prender as minhas mãos nas tuas para lembrarmos tudo que se derramou de nós, ao enchermos o tempo de inútil semântica 

Porque, ouve, eu não sou esse ser etéreo que sai da campa

Nem este chão rasa as nuvens de onde me vês, de onde vens

Por isso, talvez, digo eu, esta noite poderias ter forma e enformares o silêncio com essa planura leve da tua voz

Já que eu sou etérea como um voo de mosca que se alimenta da solidão 

Quando o meu corpo é ainda o corpo do amor e a pele informa a idade com que me deito

Sou também matéria atenta dos vermes, mas antes ainda queria olhar o mar sem versos nem vidros

Ver o sol sem rimas ardentes, para vermos juntos o verdadeiro reflexo da dor e depois talvez um "para sempre"

E então, diz-me, com esta rosa de vida que te dou, arrancada aos cardos mais secos do deserto, a morte, como a sentes?

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