às vezes, mas só às vezes
descoso a saia pela ourela
e todas as palavras que lhe cabem
me parecem ponto e linha
linha e ponto iguais na bainha
iguais no pesponto,
palavras cosidas a direito
e a torto, ponto pé-de-flor
ponto de nó, laçada e laço
sempre o mesmo ponto ajour
ou ponto-cruz
...
mas este ponto de arestas
cozido e descosido
num lençol de pano cru
é uma paisagem rebelde
onde se entrecruza muito amor
não importa o ponto dado
ou a palavra que for
se o nosso bastidor contar
os dias de estória banal
os pontos entrelaçados,
as costuras cerzidas e rasgadas
as rosas dos sentidos
e as laçadas da fala
quando nos cosemos e nos bordamos
claramente em anagrama
a escrita do corpo e a da alma...
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