libações de cor

pela manhã, enquanto o sol acode aos olhos
todas as coisas são mais nítidas e a luz mais cristalina
todas as cores do mundo se depositam só numa
e nós colhemos a indizível claridade
nas mãos que temos puras, como água da chuva

é então que eu vejo o contorno das palavras
e todas são controversas e entreabertas
a todas as formas de sombra e de penumbra
prefiro as cores, na inocência do seu dizer
a cor é como o sentimento, algo que os
olhos conseguem ver, sempre bela a cor
sempre mulher

e eu não tenho poesia bastante para atar os dias
num nó górdio de sedução e de prazer
nem sou musa bastante para os poetas altos
que me navegam o ser

já não sei onde buscar o mármore rosa
para alçar a alvenaria desta casa
o amor exilou-me dos seus dias
e eu não sei achar o amor nas paisagens vazias

mas continuo a pintar paisagens

e a fazer libações de cores e de magias

para que o amor me saiba encontrar

quando quiser falar-me, um dia

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