janela invertida

podia ser uma manhã de rosas
respiradas como lâminas de chuva
podia ser uma manhã de fruta no palato
talvez a boca como uva generosa
podia até ser uma manhã de algas
leguminosa maresia na carne alva
podia ser uma manhã de pinho
daquelas que nos levam aos pinhais
até o corpo voar como menino
também podia ser uma manhã de Maio,
daquelas que rompem como flores olhar adentro
ou com cerejas no sorriso,
talvez uma manhã sobre os flancos
de um jovem cavalo baio
o seu instinto na neblina
a percorrer o verde orvalho
podia ser uma manhã de lume
na lareira do meu monte
a crepitar silêncios idos
podia até ser uma manhã de amor
entre os lençóis leves e lisos
do meu bragal que guardo ileso
mas é uma manhã morna de Setembro
o mês das rosas em suspenso
o mês dos lírios secos
a queda da vida, para viver
depois, mais tempo...

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