
cantar o canto de Setembro
provar delicadamente o mês do mosto
há lá alegria maior que esse momento
em que o fruto nos chega aos lábios
e nos rende o seu gosto?
cantar o mês maduro
a inclinação do sol a nossos pés
a lânguida lonjura do horizonte
na podridão dos frutos
e pássaros contentes
ser Setembro no recolhimento
secar os frutos todos do amor
reclinar o olhar no fogo e esquecer
ser como o camponês
que mede o tempo
pelos alqueires de trigo amealhado
e pelas madrugadas estremunhadas
ceifar todos os postulados e filosofias
mondar da vida as ilusões
sonhar o canto das cotovias
e o voo alto dos falcões
não mais querer que o contentamento
da obra terminada, ao rasar de mais um dia
como se o corpo fosse Setembro
e a vinho novo nos tomasse as veias
em lento alvoroço
.
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