15.9.08

vieram...




vieram cegar-me as palavras
viraram tudo do avesso
as certezas e as mágoas
o verso fácil
e as asas com que dantes voava

vieram encerrar-me o olhar
na noite de ti meu companheiro
não ouço a tua voz já nem no vento
já nem no ventre me mergulhas

vieram vergar-me a verve
e a visão de águia nas alturas
raso o rio e já não o desfruto
já musa não sou de harpa e alaúde
e os meus passos ...
um eco de luto

manda um sinal de vento
um sopro de veludo
uma aragem de amoras
e de outros intensos frutos

mas não tardes que a meu lado
desaba tudo
etéreo o teu ombro desmaia
no silêncio que me infundes

gostava de sorrir manhãs
quando ainda acreditava em algo
em ti, ou no mundo
ou nos desígnios dos fados

mas vieram velar-me viva
e virão mais ainda
a luz que me sustinha
e era tua
cobre-me os membros
por mais uns dias...
mas já não sustenho muito mais a ponte
se os pilares forem vazios...

amor que me alongas
no lastro da travessia
eu vergo-me ao peso da vida
pelo teu peito a minha mão se ilude
e se extravia

já não tenho nome
apenas um som que me nomeia
sem a tua palavra roliça e cheia
no meu peito a rolar moça
não há meu amor dias perfeitos
e ninguém há que falando me ouça

.

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