20.10.08

a carta


anseio pela carta que será curta e sóbria, de lirismo intacto no interior da letra, uma carta recolhida e devota, resumida na sua textura funda de mão determinada. a carta veste uma caligrafia lesta e inclinada para o lado do coração. aguardo a carta que se guarda no fundo secreto de alguma indecisão ou torpor. aguardo sempre que o rubor me prenda e cerre a cinta na amurada de um beijo. como se sente a flor se o beija-flor a aflora em seu ébrio desejo. sim, a carta resiste a vir e eu no meu laranjal, tão cedo, ainda o sol não veio e o véu de uma luz de vésperas já me encandeia. seria a carta a rasgar a sobriedade da parede, o seu silêncio acrílico que me brilha no frio do silêncio. viria pródiga, uno minuto em que não era esperada. no ponto mais afastado do meu quintal, à lupa do luar, leria a carta, guardava a carta, escondia a carta, talvez no corpo, onde as palavras saberiam a beijos. e o teu nome na minha boca - um anel de fogo.



Sem comentários:

Enviar um comentário

Deixa aqui um lírio

Recentemente...

Não consigo viver mais dias. Já são tantos e tão inúteis. Preparo lentamente a minha fuga, a maior de sempre. Será rápida e ninguém dará por...

Mensagens populares neste blogue