27.10.08

envolvência

meu amor, devolvo a vida que me deste, devolvo a devoção e o corte transversal dos sentimentos, diz-me apenas como, o vinco a seguir, a volta a dar na entoação da voz, o tom da nota musical, diz-me do corte a dar na vã palavra, para que nesta continuidade descontínua, nada mais se vase, nada mais se perca. segue o caminho do coração, mas sem reservas. vem pelo caminho das giestas, segue a vereda que cruza o baldio e se arregaça em volta da casa. corta pela palavra mais curta, entra no círculo do abraço e fica. fica dentro do meu peito, onde me pertences, porque aí te quis. abraça-me por dentro como se me ocupasses e repõe a trave dos sonhos que denunciámos um ao outro na sílaba urgente. é apenas mais uma noite com amarras no teu sentir. nem vento, nem chuva, manto algum nos cobre os corpos vulneráveis. somente, quando tu me prendes e puxas a ti, há esta paz que eleva o tempo e o distende, para uma cadência infinita. se me falas, não sou eu já que te imagino. é uma fuga tua para mim, sem filtros, tal como és, na transparência dos sentidos. e eu que me equivoco e me disperso nos sinais de ti, que me deixo levar pelo silêncio natural do teu olhar, recebo a tua palavra como um filtro de amor. permaneço em ti, com a certeza de ser raro o momento e quase fortuíto, mas vivendo-o apenas sem questionar como me vem. e depois há a envolvência dos teus braços, meu amor, já te disse como é sublime a chama que me aquece, a tua pele, meu amor, a matriz serena do teu ventre que vagarosamente me detém...nesta memória descritiva falham as palavras, todas aquém da vivência jubilosa de um canto que em mim se pode chamar alma e é apenas o modo como o corpo transmite os sinais de paz e de tumulto, se me falas. por isso volta a percorrer os meus sentidos com essa escala de silêncio exacto e (com)sentido, desnuda-me, conhece-me atentamente no que o meu coração e o meu corpo te devolvem, ternamente...

até já, meu amor

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