4.11.08

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na noite profunda sou apenas uma voz que deambula, um segredo peregrino, um constituinte do mistério original das sombras. pouso a caneta ao constatar o muito pouco que sou. intelecto aprofundado em árida análise. a solidão agachada, sem me sobrar tempo para a abraçar. o coração um constituinte de aço, com crostas frágeis na arca, sulcos que do tempo e da distância me povoam de ti...

detenho-me nesta encruzilhada em que me observo, nua e nominal na minha busca. quero achar a leiva que me semeia em ti, o alqueive certo, a esquadria (onde é que íamos quando um de nós retrocedeu?), o eco autêntico onde não aconteça que ao debruçar-me, como Narciso, me veja só a mim... Desconfio dos meus sentidos, da minha premonição ter ditado um dia que havia alguém a conjugar-me... tenho frio, meu amor, de repente dou-me conta de que morrer deve ser esta espécie de recolhecimento da doravante situação de só.

é por isso que estes exercícios na noite são perigosos, quando apomos o intelecto e analisamos o sonho que julgamos que sonhamos, em vez de simplesmente deixar que se sonhe a si mesmo no mais luminoso ângulo que temos e é o palpitante sentir.

calo-me restrita e íntima neste dealbar de nós, que vai aderir a outra forma deste estado larvar, que ainda desconheço, talvez detido para sempre à beira de um casulo onde não coubemos. calo-me porque os lábios atraiçoam a palavra e o verbo não divulga coisas simples, como a vontade de me abraçar a ti, num preâmbulo de indizível doçura. chama-se a isto reclamar o amor. um jogo que aprendi a jogar em noites como esta, de todas as vezes que me deambulávas nas margens de um rio sem cor. e eu sigo-te nas entrelinhas ínvias, ávida de um reembolso em que me apertes a ti, no centro mais fundo do teu corpo e me ocupes, como um felino feliz...

boa noite, meu amor, se existes...

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