e os dias ficam estreitos
há uma toada urbana entre os montes
outrora flautins de caçadas e folgagem
hoje silêncio de gente recolhida
com a voz no medo no semblante
uma margem distante
onde não entram sons
nem recolhimento de aves
nem pássaros ardentes
sem trindades, nem sinos
sem fumo ou cheiro a pinhas,
suor da chegada alvoroçada
de bestas e arreios, homens de faina
a cidade sob a chuva e o silêncio
com seus recantos mais escuros
seus lobisomens de gorro preto
seus heróis soturnos, seus estendais desfeitos
a cidade sucumbe a esta noite antecipada
meu coração cerra-se inteiro
nesta toada urbana misteriosa,
lugubre à luz da Lua, mortiça,
vivaz, encarcerada...
busco a paisagem luminosa do meu peito
o olhar entorna a escrita como uma rasura
numa linha ineficaz do pensamento
podia ficar agora contigo a olhar o nada
e a saltar o tempo, num gesto obscuro
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