neve de algodão, penas leves nos prepassam a pele e o passo e amolecem os sentidos, a serena sombra do silêncio. somos assim, nós, adensados por dentro, por fora mornos de gestos e poemas. aqui donde te escrevo a tarde caminha no tempo sem se deter, ainda a calaridade se ri, mas não faltará nada para que a escuridão nos sorva nas suas vísceras sem história, as suas veias de seiva onde corremos as horas sem podermos deter os minutos. podias dizer-me que não vale a pena prolongar esta métrica, ficaria a frase suspensa e eterna, mas que hei-de fazer se visto ritualmente o mesmo vislumbre de ilusão...?
deixa-me dizer-te que agarrei num punhado de esperança e espalho agora essa areia quente e indolente pelo meu corpo, ágil de ti. não sei se visto a pele que outro destinou a alguém, se as palavras têm o meu rasto e me alcançam de justeza. se te respondo, ou apenas me respondo, na ilusão de ser interrogada, ou exortada a fazer o que sempre esperei que me pedisses. por isso estas palavras de hoje são reais e vulnerávies, no risco de as imponderar. e respondo-te ao que não sei se me perguntas.
ah, meu amor, minha ave tranquila que já tudo me foste em nosso longo curso... se não fui eu quem partiu ou amornou os laços, mas tu apenas que me apartaste, na irresolução de ombreares comigo a emoção em riste...
se eu soubesse a explícita certeza da tua voz, a verdade do que sentes e o que se te embusca nos oráculos, ah, eu voltaria a encher o vácuo a a soltar todas as aves pressas aos dedos, a semear o desassossego no sossego do teu olhar, para te devolver depois a paz maior, aquela que se opera dentro e nos renasce, após...
meu amor, se houver um sinal que possas mandar, uma nuvem variada, um golpe de vento veloz, uma brisa amada, um traço ousado, uma onda de vontade e de virtude, se algo houver a
acrescentar, que venha enfim o rasto, a centelha, a tua íntima voz que só eu saberei decifrar nas pregas de penumbra onde nos sabemos achar...
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