4.2.09

poema aliterado

sem lira, lágrima ou lírio
sem névoa, nuvem ou nome
sem nada sou ainda o estame
mulher de estanho e de leme
sem lume, lua ou lugar
sem nada sou ainda fraga
sem medo temo ainda ser
seja o que for que serei
casa, trave, fivela, mesa
anca de mãe, arca de luz
mulher ceifada, sem trigo
mulher centelha e refúgio
seja o que for que me assusta
a minha vida é um lugar cheio
onde me desaba o mundo
quero a solidão, dentro dos outros
quero os outros surdos-mudos
quero acontecer em mim mesma
como um fenómeno ocasional
passado e futuro - num só
sopro de mágoa e de luz
quero que alguém me veja e diga
do meu olhar andrajoso
do meu sorriso vencido
e me ajude a levar o meu mundo
que carrego tão escondido...

1 comentário:

Deixa aqui um lírio

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