3.4.09

A Margem de Matisse


o pensamento tem muralhas, altas torres de pedra, silêncios vários, pontes para dentro, inelutávis lagos de letragia. estou dentro de mim, sem querer sair. sou-me ventre e venesiana da vida. tudo que se passa lá fora é-me familiar, mas não posso tocar a roda dos acontecimentos. nada me une a outrém, nem sequer a recordação de um leito de rio, nem a transparência de narciso, ou a visão de eros na culminação do prazer. sei que ninguém mais me saberá seguir, nem quero que me dissolvam em unidades de sentido, se me seguirem, à medida que o sal me evapora. agora, só me interessa o que ainda processo internamente, no desprendimento de tudo. é um voo limpo e sereno, uma curva indelével em lugar nenhum. ficar só foi um crime premeditado que perpetrei sem dor. corpo delito, o meu. só eu saberei mergulhar na letargia e sair dela. foi o que soube recolher depois que perdi o lugar idílico do amor, onde nunca fui mais do que a minha exacta miragem, sempre tão longe no horizonte, dunas após as dunas que subi e resvalei sem te encontrar... fiquei cansada de ser, seca como o poço da fala e nada mais me ocorre agora que possa interessar para os autos. culpada. de insistir em alcançar a margem onde nunca estavas.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Deixa aqui um lírio

Recentemente...

Não consigo viver mais dias. Já são tantos e tão inúteis. Preparo lentamente a minha fuga, a maior de sempre. Será rápida e ninguém dará por...

Mensagens populares neste blogue