amanhece embrulhada em chuva a deserta urbanidade das coisas
rasteio-me no dia, entre a música angolana do andar de cima
e o agitado grito das aves da cidade, ou dos carros sobre o asfalto,
na estridência dos apitos, no chapinhar dos pneus tão apressados...
todas as coisas criam empatia com o silêncio
e o silêncio é um malmequer lento que se rasga
folha a folha, mas não vem claramente
queria uma folha branca, ou uma nuvem
e no meu colo um lenço de paz, longo e branco
como a manhã
apagaria tudo, menos as aves
menos as crianças e os seus risos
num dia assim, pesa-me o ramo de inquietudes
o frenesim tribal nos minutos que se escoam
é urgente uma nuvem e uma suspensão de tudo
no ruído da cidade - um outro ritmo -
talvez um diálogo de árvores
para que enfim haja lugar a nuvens e ventos leves
e se encontre a deserta (e silente) urbanidade
como era dantes, quando chovia e eu fazia
versos no betão, por entre as grades
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Recentemente...
Lua amada
Eis a madrugada, esplendorosa e bela Eis a noite dos sonhos que nos caminham dentro Eis, enfim, o corpo amado, suave como sabão neutro, o to...
Mensagens populares neste blogue
-
Ele costuma escrever-lhe cartas riscadas como vinil, cartas sem nome, curtas e voláteis, mas ela lia claramente o som da voz, a saudade da...
-
Há quantas luas levamos o tempo às costas, nas mãos alagadas de suor? E há quantas luas lemos os seus sinais, as nuvens que a encobrem, rasa...
-
Atravessar contigo o rio, comove tanto, o passo tonto. Atravessar contigo o rio, uma pedra, outra pedra, saltas tu, salto eu, aqui dá fundo,...
Sem comentários:
Enviar um comentário
Deixa aqui um lírio