24.2.11

sem poética

andamos em volta da palavra "nós", como de um fogo inextinguível
num canto da estepe que nos sobrou depois do bosque

perguntas e eu respondo, timidamente assumo a pergunta e cega
respondo, sem saber que a resposta é que é, afinal, a pergunta

e assim transportamos nas mãos o sonho
ao canto do dia, sempre nos olhos como as folhas
vivas de uma árvore antiga

ou na sombra da noite, entre a vigília e o sono
a meio da insónia e do estertor da tempestade,
mormente se for chuva

meu amor, falar contigo, assim de frente, deixar e receber
um ramo de sensações e de emoções em teu louvor,
é tudo que a minha vida me exigia

estar contigo, saber que estás no mesmo momento em que estou
é fechar o círculo sobre o presente, fixá-lo com força
para não desaparecer depressa no remoinho do tempo

um destes dias, temos de usar o tempo
só para alimentar essa certeza, a de que estamos síncronos
e unos nas malhas do amor e da poesia - eu e tu do mesmo lado-
e o vidro ao centro,
emocionados, trémulos e puros

talvez um dia qualquer do mês morno
de Setembro...


(o tempo faz-nos frágeis. cansados. os tempos obrigam a sacrifícios longos, insuportáveis, inusitados.
não era necessário atingir o paroxismo do cansaço, a ponto de não conseguir reagir à dor de cabeça e ao excesso de preocupações. estive presa até agora, sem dormir, a pensar-te aí do outro lado, mas incapaz de erguer-me para recolher e deixar a palavra ansiada. ou de fazer fosse o que fosse. esgotada. diz-me mais. preciso do alento da tua alma. um beijo de alba.)

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