como estás, disse ela. eu estou bem, acrescentou.
que fizeste hoje que te tenha dado alegria, a verdadeira elegria
que nasce de um quinhão de nada, perguntou ela.(...)
eu vi o dia deslizar lentamente para a noite, sem qualquer declinação
dos astros. tive saudades tuas, acrescentou. ele sorriu. de dentro. (...)
e depois, que mais fiz, perguntas tu? não me lembro. a minha memória
ultimamente é breve, tão breve que ficam vagas impressões do tempo
a arrastar-se e eu desconcertada, porque sem ti nem o caos se reúne, nem as coisas
que faço se assinalam. (...) também estive a ler, sim, já me recordo.
li o meu poeta preferido. li ao lume das palavras. nunca experimentaste? (...)
sim, é muito bom. encontrei-as sem dono. fi-las minhas como interlocutora
virtual do seu discurso. (...) o tempo? sim, hoje fez muito frio, mas não era cá dentro.
(...) sim, sim, preciso de ti, tu sabes. (...) o que quero de ti? Ah, o que eu quero de ti
é que continues a existir. para cotejarmos os nossos passos e os medirmos,
aferindo distâncias. (...) se isso me basta? o que sei eu sobre o que é bastante?
o que me sobra, o que me chega, o que me extravaza, o que é demais para mim?
não sei o que é bastante. no amor nunca há água bastante. mas sei que saber-te é
quanto me faz feliz neste instante em que falamos (...) também eu, sim. até já. (...)
sim, vamos.
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