27.8.19

A espera

Se eu fosse Helena, em Tróia roubada,
Teria conhecido Aquiles e Ulisses.
Seria a feminina essência da tentação que os deuses lançaram aos homens para lhes pesar a coragem. Teria recusado ambos e tentaria ganhar músculos e heroísmo.
Se eu fosse Circe, nunca te teria desencantado e os teus companheiros ainda hoje andariam fossando nas poças. Porem, teria deixado a porta bem aberta para partires.

Mas se eu fosse a dócil senhora de Ítaca, baniria todos os pretendentes e montaria um negócio de tapetes, para não ter de os desfazer à noite.
Não ficaria na ilha, mas seria uma amazona disfarçada a revolver os mares onde te encontravas. Uma mulher não gosta de ser ela a esperar. Vai e pronto.
Mas, se ficasse, seria eu a morrer de felicidade e não o cão, quando te visse regressar.
Mas não quero sequer pensar como descosias a costura opaca dos tapetes para me amares.

Mas ainda bem que não te espero, nem sou grega ou sequer troiana. Mas quando chegares, juro que te estendo uma tapeçaria onde só cabe o meu corpo e o teu. E os pretendentes que se lixem.



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