24.10.19

A declinação do corpo

Escrevo pela linha do cansaço a declinação obscura do corpo.

O meu mundo transcorre
numa página de papel absorvente, trilhado por seres que me cruzam a cada instante que sou.

Posso aplanar a voz, domar os minutos
com um reagente suave, mas ao fim do dia implode tudo sem ninguém ver e então saio e levo comigo a confusão, perdida dentro de mim sem bem saber já para onde vou, ausente por instantes.

Tudo acontece muito longe, mesmo a mecânica apuradíssima dos carros que param e andam. Os movimentos automáticos dos meus músculos é tudo que consigo sentir. Eu estou de fora da estranheza e ordem das coisas mas não estou a ver-me nelas, nem em lado nenhum.

Deve ser assim que a demência se ergue para me lembrar que me espera com uma tenaz a apertar o cérebro, adverbial no meu presente, em breve, brevemente, breve mente.


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