10.10.19

Caderno das dúvidas - I


Acumulo dúvidas como dívidas, débitos como desejos e ainda mais dúvidas.

Tenho esta curiosidade de ser e de ter e quanto mais sou e quanto mais tenho menos sou e mais dúvidas tenho sobre quem sou.

No meu caderno de dúvidas já registei
esta nova natureza, que me leva a absolutamente querer tudo, com a pressa de quem entrou na festa sem convite e sabe que vai ser expulso.

Dúvida: será isso uma forma de nāo morrer devagarinho?

As dívidas que a vida me deve
não tenho a certeza de serem minhas, tāo minhas como as dúvidas. Afinal eu sou apenas o polo negativo de uma montra atraente e sou atraída. Que culpa tenho eu que a energia, a vitalidade e até o amor me tenham vindo a atraiçoar desde que nasci?

Consumidor compulsivo é aquele que se consome no consumo. E eu consumo-me no ter para não me consumir a mim mesma no absoluto não ter.

Anoto no caderno a dúvida. Há mais alguma coisa para além do ser e do ter?
Há, dizes-me tu. A ascese, a compressāo, a poupança, a morte miudinha e a miserável.

Não, quando eu morrer será em grande.
Nunca hei de ser velha, mesmo que as rugas se cravem no rosto como silvas. Tenho este direito ao excesso de tudo, até de dúvidas, essas mesmas incertezas que sāo adubadas pela idade.

Mas uma certeza tenho: mais quero a intensidade na vida do que a durabilidade remendada e triste.


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