não sei como diga à morte para sair do quadro que pintas com as cores do inverno
não existe lugar nesse quadro, onde o teu corpo repousa, para a mortalha que te vem aos lábios
vives dentro de mim na exaltação do meu sangue e portanto onde há vida não pode haver também morte
pode envelhecer o tronco, a casca, os dedos, mas o sangue não. jovem é o amor que nunca se esgotou, como o sangue que nunca se esgotou é jovem enquanto o fizer pulsar o coração
amo-te como amo a tua morte, diz o poeta louco. Não o ouças. Ama antes a vida intocada, ama toda a impossiblidade possível, aquela que anuncia de madrugada a cotovia
ama alguém que não tema o escuro despejo do corpo - é um mergulho suave no sono e nem sequer sabes se sonhas
e eu, saberei que me esperarás no teu quadro, frente ao cavalete vazio que enche a tua vida. mas agora quero viver como os pássaros que são álacres e descuidados de todo o perigo
os pássaros só morrem uma vez na vida
para que havemos nós de morrer todos os dias?
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Recentemente...
Ângulos
Escuta Esta noite é mais aguda. Alguns cães ainda ladram à passagem da nossa sombra. Eu estou sentada no eixo duma escuridão sem nome. Tu re...
Mensagens populares neste blogue
-
Ele costuma escrever-lhe cartas riscadas como vinil, cartas sem nome, curtas e voláteis, mas ela lia claramente o som da voz, a saudade da...
-
Há quantas luas levamos o tempo às costas, nas mãos alagadas de suor? E há quantas luas lemos os seus sinais, as nuvens que a encobrem, rasa...
-
Atravessar contigo o rio, comove tanto, o passo tonto. Atravessar contigo o rio, uma pedra, outra pedra, saltas tu, salto eu, aqui dá fundo,...
Sem comentários:
Enviar um comentário
Deixa aqui um lírio