4.11.19

climatização

Disperso-me no mesmo pó amarelo
das areias do deserto
com que os amonitas banharam
a sede de entendimento do universo

Para que fizemos as cidades se nunca saímos do deserto
Somos donos dos céus, mas nunca estivemos perto

Somos cultivados mas não cultivamos nada que cresça para além dos ossos
E buscamos a sombra, cegos com o prodígio singular das coisas

As rugas que os povos do deserto esculpiram no seu rosto, quando se viram secos sob o sol mais perverso 

Essas rugas de rigor fazem-nos falta.
Porque tudo que temos é climatizado, até
o amor, preso entre dois prédios, é de
um delicado fogo moderado




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