Deixei-me embalar no vento como as castanhas num jornal e absorvi o mundo lenta, muda,
desfeita no temporal. É inegavelmente o lado agreste do outono, folhas pisadas de lama e o coração pendente quase a cair se não vier depressa o abrigo, a janela de olhos tristes e nós lá dentro.
No braço da bruma, quando casa com a chuva, a dor é lenta, a dor é uma lente embaciada mas por fora
há uma força que demove, um vórtice que nos emerge para a realidade nua, desgraçadamente só. E nós em fuga para mais dentro, só porque chove.
Deixei-me ser apenas um primata na caverna. Afinal é isso que sou, um primata que pensa e sente demais coisas inóspitas
como a chuva de outono ou o amor em suspenso, folha prestes a cair, sacudida por todos os temporais de chuva e solidāo.
Deixo-me muitas vezes existir sem existência. A chuva como ópio que atalha
para a morte a mente amorfa. Ou uma lente qualquer que me desfoca.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Recentemente...
Ângulos
Escuta Esta noite é mais aguda. Alguns cães ainda ladram à passagem da nossa sombra. Eu estou sentada no eixo duma escuridão sem nome. Tu re...
Mensagens populares neste blogue
-
Ele costuma escrever-lhe cartas riscadas como vinil, cartas sem nome, curtas e voláteis, mas ela lia claramente o som da voz, a saudade da...
-
Há quantas luas levamos o tempo às costas, nas mãos alagadas de suor? E há quantas luas lemos os seus sinais, as nuvens que a encobrem, rasa...
-
Atravessar contigo o rio, comove tanto, o passo tonto. Atravessar contigo o rio, uma pedra, outra pedra, saltas tu, salto eu, aqui dá fundo,...
Sem comentários:
Enviar um comentário
Deixa aqui um lírio