25.6.20
notícias do vento louco
estou ainda a pentear a Primavera
os meus cabelos estão crespos e baços
da cor das espigas mais duras
e a terra não as alimentou dos aminoácidos
mais puros
o meu rosto abateu-se para dentro
mais perto da terra, rugoso como ela
todos os dias escrevo mais histórias nos meus olhos
apago-as com lágrimas
e renovo-me quando choro
ando por aqui a passear a razão
a pagar as contas e a fazer as compras
a alimentar os meus dias com leite
e migalhas de ilusão
os dias são ainda proibidos
e eu piso-os devagar,
não vá esmagar sem querer
a esperança que sobrou
é pena só ter sobrado isto de mim
era uma promessa de frescura e de paixão
tinha os bolsos cheios de tudo, ternura,
viço e alguns castelos em construção
podem ter caído, mas sempre se ergue
qualquer coisa das ruínas. um bocado de sede
uma parede mais alta que nos envolve dentro
e outro castelo se empina
mas não dura, não
agora sou assim. penteio-me com o vento,
não quero nada de estranho na minha pele
que os teus lábios não beijam. sem cremes
sem cores, sem artifícios, despeço-me assim
de mim mesma, já pasto louro, encrespado
e hirsuto
tu tens a chave dos meus castelos loucos
tu que foste o muro mais generoso
e ainda hoje sustentas alguns pilares
contra os ventos a zunir nos calabouços
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Recentemente...
Temos pena
A existência quem disse que se dissolva todos os dias na mesma velha taça dos mesmos dias? Um qualquer existencialista privado do sonho, uma...
Mensagens populares neste blogue
-
Ele costuma escrever-lhe cartas riscadas como vinil, cartas sem nome, curtas e voláteis, mas ela lia claramente o som da voz, a saudade da...
-
Entre montanhas planeio voos e plano sobretudo o lugar da ilha A vida existe mesmo que a não queira. Mesmo que a chame e a submeta aos pés d...
-
So, you should never wait for love, baby. You live in Chinatown and I'm not there anymore. Forget it. There is no love in Chinatown, Jak...
Sem comentários:
Enviar um comentário
Deixa aqui um lírio