26.6.20

Para o Pedro Lima


às vezes as manhãs acrescentam dor, realidade extrema
são como contingentes prontos a avançar contra nós

recebemos no rosto as afrontas, as cobranças, os intrincados nós
de uma trama armada pelos homens que se armam para viver
nos altos prédios do poder

eles ou nós. às vezes acordamos com a revolta já presa à voz
prontos a marchar contra a razão instituída, porque a razão é agora lei
e qualquer lei é mais forte do que nós

às vezes as manhãs vêm sem luz, amenizadas por um café
entre a justa alegria do dever e o medo do que pode vir

percebo o suicídio, também eu iria se pudesse levar comigo
todos os títulos e juros, todas as moratórias, impostos e coimas
tudo que me impõem só porque trabalho e, pois é, já me esquecia,
porque respiro

fica mais barato não respirar, senhores.
nestas manhãs sabemos que alguém virá
pelo canal mais perto do ouvido, soprar
a inquietação de alguma coisa que desconheces
mas que trabalha já contra ti, no escuro de um gabinete

o teu maior inimigo está oculto. não o podes combater.
fica mais barato não respirar

imposto urgente sobre o ar, o ar puro das montanhas, uma garrafa dele,
o ar das planícies, um kit de ar saudável, uma bomba energética de mar,
ou da floresta, das neves polares, das primitivas manhãs sem impostos,
sem impostores, sem imposições, partos, partidas de homens simples
que não suportaram os acérrimos limites


                                                       Adeus, Pedro, não serás nunca esquecido

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