6.7.20

Poema do sol posto

E depois há a delicada essência do teu rosto. Vejo-o às vezes, nas tardes, ao sol posto.

Quem mais vê o que não é,
Quem mais escreve o que não vê?
O sol a pôr-se em mim, o sol a moldar o teu rosto?

A essência, meu amor, a essência do meu sonho é feita com um bocadinho de mim, roubado de um bocadinho de ti.

A essência, esse odor a macieiras, a limas
e frescas figueiras
é o delicado aroma, a invisível cereja,
o naco de pão fresco, o café forte, o eucalipto, o roseiral desfeito, todas as sensações que já vivemos, plenas. Não foram poucas. Ou vives a realidade ou a sua essência.

E a essência é o lugar onde se fazem os poemas, as palavras do sol posto,  arrancadas ao corpo, como penas.

 Para te ver ao sol posto, tenho os meus olhos e a luz que neles entra, uma lente  que ainda se abre à esperança  de que venhas.




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