Entre o incerto fluxo da rede percorro a casa para te encontrar em qualquer lado. É como viver numa espécie de vão de escada, sem luz, com o seu cheiro a bafio de um século. A casa resplandece com vida e pó mas não é habitada pela modernidade. Fico reduzida ao vozerio das galinhas e dos pombos, tão pouco poéticos, e às reverberções das escadas e do piso, tudo em madeira.
Achar-te não foi obra do acaso.
Os cantos e recantos da casa têm a sua mágica ligação ao futuro ou ao passado. Para receber as ondas do futuro, achei um sofá aposto a uma janela.
Faltava-me a tua voz. Falta-me sempre.
As tuas referências não são universais. São, como eu, reservadas, íntimas, impertubáveis pelo passado ou pelo futuro. Habitamos em cheio o presente. Todos os dias são hoje, agora, nenhuma casa velha se interpõe entre os sentimentos que solto da arca do trigo, do vão de escada, do recanto da janela, do fundo deste coração sensível que ouve as vozes dos mortos de três gerações.
E a tua, essa é viva e vem ligar-me ao fundo mais fundo dos sentidos.
Ao diabo os mortos. Foram-se e não souberam ganhar a eternidade como nós. Ninguém se lembra já dos seus nomes. Mas são meus. Vieram com a casa.
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