18.9.20

Carta da madrugada

Meu amor, minha vida,

Escrevo acometida pelo torpor das rochas, enquanto procuro o som da chuva dentro do meu sono.

Não se faz presente nenhum labor da natureza. O corpo de uma planície oferece-me o mais completo silêncio.

Apenas a tua voz me arranca a essa prestação dos justos, quando a noite nos encena o teatro da morte.

Ouço-a como se as tuas mãos me tangessem a mais bela música. As palavras nunca me pareceram tão reais. Tu nunca foste mais real. 

A noite nunca foi o abraço azul tão próximo do teu peito. Com tanta suavidade, prefiro a incógnita à funda realidade.

Ainda assim, as palavras têm um rosto. E eu colo o teu olhar no fim do poema, sublinhadamente como um selo lacrado, da emoção que se abre ao quebrar o gelo.



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