Resiste à garra do deserto. Quase submersa em pedras e areia, calcificou os muros e ganhou uma estrutura óssea que nada consegue corroer.
A casa de areia abana como as flores e inclina-se suavemente à passagem do vento nos seus ramos. É preciso regar a casa para suavizar os ângulos que cortam incisivamente o amor.
A casa tem janelas que são olhos de sorrir, para cortar menos os dedos que se buscam, as mãos que se cruzam.
Tem lábios no portão amplo para abarcar inteiramente outro ser e braços que são abraços nas floreiras de pender. Tem um telhado alto para tocar nas estrelas. Tem páteo para receber o sol e vive onde as aves buscam guarida.
A casa de areia tem sido construída e renovada ao longo da vida. Está pronta a habitar pelas almas vivas dos futuros poetas mortos.
Mas está escondida para continuar a ser amarela da cor do deserto e frágil na sua compleição dura. Não está à venda e não está em arrendamento. A casa só existe.
As chaves? Somos nós que as temos. Fechamos os olhos e a casa sorri enquanto nos abre o seu-nosso efémero amor.
Enquanto um de nós viver, a casa não vai cair. A areia não vai ceder. O frio não fará brechas e o luar não se afasta. Os ramos continuam cercados pelos pássaros.
Enquanto um de nós estiver, ouvem-se os passos, move-se a argila, imprime-se o nosso fado. A casa continua a ser um lugar cercado pelo amor. Um abismo e um estrado.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Deixa aqui um lírio