Pushkin morreu num duelo, com a espada em vez da rima, subjugado pela honra. alguns poetas morrem a meio de uma rotineira volta pelos campos, outros morrem de catarro, cirrose ou drogas e vinho. já não se morre pela honra. quase todos morrem sós, emigrados, deiludidos, nunca desonrrados, embrenhados num verso já sem sentido. vão sós a olhar para o futuro que já não vem. outros suicidam-se, simplesmente, contra o medo (como se o advérbio se aplicasse ao ato de resumir a vida num último terceto). o mundo é grande demais para caber no seu peito.
o difícil é ser o poeta anónimo do quotidiano sem qualquer espécie de heroísmo, o poeta que bebe o hálito negro do fumo das ruas da cidade, o poeta que arrisca infeções no aglomerado do metro, o que carrega as compras taciturno e paga as contas com o magro subsídio, honrado, sim, mas pobrezinho
raramente se morre por excesso de dinheiro ou de poesia. ou de amor. os poetas morrem porque tem de ser. pobres ou ricos, não desaparecem, deixamos apenas de os ver
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