27.10.20

Corpo a nado


não te alcanço na estação, talvez te alcance por dentro no comboio que não pára, onde os dias passam cegos, uma força forte e amara, as nossas vidas a ponto cruz numa toalha

inumeráveis vagões de melancolia e a tua vida passa, a tua vida, minha vida, a tua vida passa por mim cega sem me ver, sem me querer, sem a tua pele, sem o teu corpo, amor, as noites deslizam no asfalto, o teu corpo elevado e o meu tão baixo, humanamente vulnerável como barco na rebentação, não me leva a maré a ti, leva-me a ilusão

quantas vezes fecho a noite, encerro dentro a palavra, recolho as mãos estendidas, porque não sei, meu amor, quando é que voltamos a encalhar a alma numa mesma ilha com o corpo a nado e a mão tranquila

encerro-me na noite, pinto a escuridão de um azul acetinado,  ponho uma cedilha aguda na palavra, talvez o sono me leve e, leve, te traga...


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