6.10.20

Viagens

um barco florentino, ornamentado de acácias, desliza por um rio de limpas águas

um ritmo pausado, como se o peso da barca fosse o silêncio que nos leva

estamos em Siena, onde nunca estaremos, a murmurar sonhos passados quando outros fomos

a Toscânia no outono! os campos amarelos, cor de ameixa, laranja e lume

o amor em redor da cidade sem paragens nos velhos palazzos com belas sentinelas de marmóreas faces

nós dois na proa, estátuas de sol, vamos interditos na palavra, deixamos os olhos voar e recordar o enamoramento, as doces fábulas 

então, tudo nos tocava, vivíamos todas as histórias de amor do passado, fomos Pedro e Inês, Heloísa e Abelardo

íamos a todos os povoados na rima dos versos como seres alados. pintámos o amor no verso dos quadros, onde ninguém via

não tínhamos já onde esconder o amor. Sienna e outros idílicos lugares eram apenas cenários da pressa de ficar

mal nos conhecíamos, mas viajávamos já, nas barcas e alazões, entre amores mouriscos e álgidas perdições

hoje lembrei-me do teu perfil nas minhas mãos enregeladas, um vagabundo e um palacete e a morte de madrugada



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