13.12.20

Carta a um viajante no tempo

A culpa é minha. Fui eu que não te soube reconhecer. A culpa é o que fica, depois do vazio se instalar. Tentei tudo para quebrá-lo, para te quebrar o medo, tentei de mais, seduzi-te com os meus versos neuróticos, deveria ter partido para que vivesses. Fui eu que te arrastei para este recinto estreito, sinto que fui eu que persisti, que fui eu que te busquei, te desvendei, te precisei de desvendar, de conhecer o teu mistério, a tua essência, desculpa fui eu que te sonhei todos estes anos e, quando pensei que tinha acabado, quatro anos sem escrever uma palavra, conheci-te. Não podes imaginar a reverberação da paixão quando te vi, o milagre que foi existires, com aquela voz mágica, como corri para ti diversas vezes até desistir. Deixámos o tempo apodrecer, um limão seco foi o que tivemos e bebemos ainda assim com fervor. Foi um tempo neutro, nulo, pleno de sofrimento tolo porque eu não te soube reconhecer. A falta que me faz a tua voz ao telefone. Este jogo saiu-nos caro, mas eu já não me importo. Já vivi o mais sublime dos encantos, contigo. Estou a vivê-lo agora. Mas quero libertar-te para viveres. Meu amor, alarga a solidão estreita, abre-te ao mundo. Não podes estar preso ao que perdemos. Pensa no que vais ganhar quando confiares em alguém.

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