É assim que o tempo pára sem uma travagem, sem que os amortecedores nos lembrem que é o fim da viagem. Quando ficamos sem o tempo, resta-nos o espaço. Ainda temos matéria bastante para existir, sem termos de recrear a nossa vida. Passamos os olhos pelas coisas do mundo, à superfície, como quem aflora o pó. Paramos no belo e ele nos basta. Enchemos os pulmões de beleza sem a representar. E isso nos chega. Se eu partir, levarei comigo o belo, nunca a imunda calçada onde nunca soube andar. Levo as rochas, os cabeços, os pinheiros rasos pelo vento, as doces flores das alturas, o rosmaninho, o cabelo ao vento. O tempo pára sempre no ponto onde tinha começado. E eu sei o que o tempo não me deu, nem há de dar, porque acabou, mas tenho em mim o espaço, o lote imenso das alturas, os lugares recônditos, os matos, os infinitos planaltos da ave triste que sou.
24.1.21
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