23.4.21

a remoção do corpo

desistimos porque nos submetemos

submetemo-nos porque desistimos

e não há desistência que não seja submissão

à força insolente do destino


não está escrito nas estrelas o prolongamento das coisas

se estivesse, os cometas seriam ostras e as ostras encheriam oceanos

com suas formas toscas


mas os seres são o prolongamento uns dos outros

uns semeiam-se no sangue e no seio 

daqueles que os ouvem

outros escavam fossas marinhas

na pele de quem os acarinha


por isso a desistência é contra natura

nunca o mar recolhe as suas ondas

nunca a erva inverte as folhas puras


aceitar é outra coisa. a remoção de um corpo faz-se

de dentro para fora com uma faca aguda ao longo da espinha.

aceito o golpe, não a ferida, a escolha não foi minha


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