7.4.21

Epopeia do amor

Primeiro foi a intrépida irreverência. Foi de certeza essa jovialidade que me atraiu. Era uma gargalhada de vida, uma vontade de viver que se espalhava na página em branco, como uma tinta abençoada.

Depois foi o desafio, expresso na troca de setas, golpes deveras sinuosos, na ponta ornados de sonhos.

Foram desafios que foram tomando a forma de diálogo, diálogo cada vez mais dialógico e íntimo, como um rio subterrâneo que nós apenas ouvíamos.

Foi tudo muito e muitas vezes bastante, mas nunca chegava. Foi o entrelaçar do sonho na mesma pele. O tálamo, o quarto e a casa como templos da nossa palavra.

Depois foi a entrega, como se fosse possível esta ser tão matrimonial como foi, tão intensa e firme como é.

Só mais tarde conheci a voz e pude desenhar um sorriso, absorver o sorriso para dentro das palavras, molhar as palavras no sorriso.

Após a voz veio o encontro, algo ferido e trémulo, mas lindo. Ficámos de frente a confessar docemente os nossos crimes.

Em cada nova etapa o amor vem subindo, vem rebentando o frágil dique das emoções.

E tu, meu amor, és lindo. Por tudo que me tens sido, desde o princípio. Agora, as águas confundem-se com a dimensão do teu sorriso, no altar de luz que partilhas comigo. 

Dorme bem, meu amor querido. A poesia é fraca, mas o tom é grandíloquo e sublime, pois eleva aos anjos a epopeia do (nosso) destino.


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