5.7.21

Retorno

O amor não tem retorno? Whitman o disse e o negou. Amas quem te observa e te vê por fora, amas quem te ama sem saberes?

Que retorno pode haver nesse amor escondido, como uma hérnia no joelho, um fungo no ouvido? Um amor visual, que Anne de Clèves deve ter vivido.

Porque o amor resguardado não tem retorno no mesmo sentido. Eu que te imagino e te moldo ao meu desejo, agora, neste mesmo momento, não te tenho, não te vejo.  Tu que me tens observado, não me tens vivido. O nosso amor parece não ter retorno.

Mas o amor tem sempre retorno, Whitman foi peremptório. Bastam os versos que me invadem, neste exato momento. Os versos que te escrevem e me dão vida e sustento.

O amor tem volta, quando entre nós esvoaça o vento, quando entre nós a chuva dança, quando entre nós se casa o pensamento com a emoção da etérea presença.

E assim tudo na Natureza é retorno, se for algo belo, singelo e solto.


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