Preciso tanto de ti. Preciso de ti muitas vezes por dia, por hora, às vezes até por minuto. Encho o tempo com coisas sérias, mas por fim fica-me na boca o sabor neutro das coisas inúteis. Sem ti, tudo sabe a serradura ou a pasto seco, sei lá. Tenho muitas vezes memórias peregrinas de outras vidas nossas. Chego a perguntar-me se foi tudo verdade. Mas foi, é claro. Temos a verdade das coisas que são mentiras convictas, arroubos do coração. Se os sentes, então são verdadeiros. Toda a autenticidade dos nossos momentos está escrita na carne, no nimbo das veias. E eu abotoo sempre o casaco para o mesmo lado, bebo sempre o copo até meio, sorvo inteiramente as marés. Sou fiel nas pequenas coisas sem importância. Engano-te quando me calo e destilo sozinha algumas espécies de veneno também elas inúteis, porque o antídoto és sempre tu. Desculpa este amor assim tão peregrino, mas contigo o tempo é um destino sem ponteiros, nem fivelas no olhar. Estamos. Depois não estamos.
8.7.21
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