Eu sei de quem se levanta para morrer mais um pouco, apenas para produzir os dias e matar a fome nos ninhos que foi fazendo
Como andorinhas do inverno, essa gente avança no corpo escuro da manhã, com o regresso já no bolso
Sei de quem se levanta cinco vezes por dia, uma por cada uma das vezes que cai
Para quem leva a sacola cheia de afetos, a caminhada é leve. Nem que seja gato, piriquito ou cão amigo, têm uma luz que lateja. Para quem não tem a quem dar mais do que os bons dias, deve ser uma viagem onde só lateja a dor
Sabem (sabemos) que parar ou desistir não é opção
Agora, pensem, como o mundo nos engana e desgasta, nos deixa encurralados, despojados, mortos na rua, sem casa nem sustento
(Quando fomos promessa e rebento, crianças e adultos com o coração cheio de tempo)
Eu sei e vocês também. Para quê, senhor, para que torcemos as nossas vidas como se fossem um esfregão
Para irmos, para voltarmos e nos arrastarmos, para de novo irmos, e assim,
Devagarinho, todos os dias há pessoas que deixam de poder, de conseguir, de ser capazes DE IR
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