27.10.22

Que seca!

Porque não gritamos? Ninguém diz nada. Podíamos formar um coro e ficarmos todos a gritar por dentro até cair.

Todos somos poucos. Deviam vir mais para gritarmos mais longe o luto que vai dentro.

Morreram todos. Uns nasceram já mortos. Outros escolheram cair aos bocados. Os mais fracos tiveram a coragem de ir mais cedo. E foram.

Eu fiquei acordada, à espera de ouvir vozes. Gente a viver alto. Passo doble na rua, tango no jardim, poesia na rua, pendurada das varandas.

Acho que morremos todos por dentro. Vergámos o corpo à mísera jorna do dia e à noite pestanejamos entre o Voice Portugal e o AXN. 

Gostava de ouvir vozes no diário regional. Gente que se faz forte e feliz. Precisamos de mais loucos e de alguns ébrios a cantar loas à Lua, a urinar no jardim.

Dizem que há seca. Para mim, a seca é outra. É terem morrido todos sem mim. 

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