11.1.23

Casa antiga

Um só movimento e o estrado treme sob nenhuns passos - cada escada leva ao piso de uma nova escada e longe fica o alto mundo a que subimos.

Quero-te muito, com o mesmo estremecimento das teias, na corrente de ar, na casa antiga. 

Eu sou a casa que sobes até ao cimo. Ao fundo, uma descida abrupta. Caímos nos bastidores, onde se escondem mais e mais escadas que mais e mais subimos. Tu és o corpo da casa e a tua boca é o jardim. Os teus lábios sabem a alecrim e salva e o meu colo é terra para ti. Já esvaziei tantas gavetas nesta casa de giz, uma após uma, de todas as cartas me desfiz.

Mas há algo na casa, um hálito ameno, um rasto de ti. Estou bem, a casa é onde me tocas, onde me sorris.

Aqueces o lugar com as palavras pontuais feitas de flores e de caliça, húmidas razões para arejar a casa, entrar, ficar e, depois de te respirar, sair. 

Nunca chegamos à mesma hora e, agora, a casa antiga está em queda, nunca nos fará coincidir.

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