18.1.23

Isto não é um poema

Na aragem fria em suspenso o tempo, em sono profundo o desejo de ser e estar na aresta de um qualquer outro momento

Pouco importa. Estamos onde estamos, como quem só quer estar em qualquer um momento

Às vezes, na úmbria tarde as palavras altas chamas ardem momentaneamente

Tranças feitas, feitos os paramentos e depois sem sentido o lume cede e não acende

Não há um só fio de sentimento neste memorial tão de mármore e de cimento

Para ser poeta, teria de ter a dor dentro, a dor lancinante, a ponto de uivar no vendaval e murmurar no silêncio o teu nome, com nuances de seda e de um material iridiscente

Idílio, talvez ainda sempre, mas a poesia é outra coisa, é sentir as letras a doer cá entro, e a mão a tocar, de olhos fechados, o teu rosto, o teu olhar, a tua boca, a cratera onde te escondes

Não é um poema, é um caso de pura teima isto de estarmos na aresta de um  momento apenas

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