Viver custa, dizem, mas de certeza que ainda custa mais morrer. Que o digam os que sentiram a garganta presa, a falta de ar, a agonia de todos os venenos consumidos.
A morte tóxica, a vida tóxica, a pele arrepiada do estranho elemento, como um incubo escondido dentro.
Toda a existência está contaminada, maus fígados, maus passos, maus ganhos, perdas e a insensatez natural da espécie. Amor a menos, desprezo a mais, paixões amassadas, liofolizadas, traições vis, esquecimento, entrega e, como reação, a indómita vontade de desistir.
Viver custa tanto como morrer, sobretudo porque a vida vai matando, secando, sumindo. Nem eu mesma sei quantas vezes ainda posso morrer nas águas, no papel, na memória, no fogo.
Mas deixarei aos outros a façanha impossível de ter morrido a viver e, mais ainda,
A de ter vivido sem morrer.
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