Abro uma janela para ti, na rua projetada ao bairro escuro, onde a sarjeta regorgita as nódoas do último verão
As folhas de um outono lodacento
esmagadas pelos passos (cegos) de quem vai e volta, vai e volta, sempre na mesma direção
Sabe a sal a chuva urbana para os que vêm e vão
Eu, sentada numa repartição, à espera, à espera, e és tu que chamo, em fuga, em fuga, para onde os sonhos vão
A vida, a vida, sabes, desarma o sonho, não te inclui sempre, nem sequer me inclui a mim
Como na repartição, esperamos a nossa vez e, na espera, contemplamos o tempo, essa página
Que abre o meu peito para ti, onde cabes, onde sempre coubeste, onde a espera, de tanta, até se esquece
A vida, sabes, tem muitas repartições. Mas nenhuma parte claramente aberta
Que nos entre para sempre o ser sonhado, 'para sempre' sendo a parte mais incerta
Vamos e voltamos, e se abrimos o sonho é porque temos uma asa aberta e um caminho que (ainda) nos espera
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