14.6.08

o rosto da manhã


tomo o teu rosto nas minhas mãos
o teu rosto é a neblina da manhã
que vem difusa e esparsa
depois da noite em que reinou

bebo a frescura da manhã na tua pele
os lábios rosas mergulhadas no vazio
pétalas belas ainda trémulas de frio

beijo os teus olhos proclamados sóis
aves lhe pousam em busca de vida
são os meus dedos que te encontram
como duas ilhas de frondosas fontes

afago o declive da tua face
de um só traço, apago a lâmina
do cansaço, a amargura do desenho

dorme agora que te alisei o sonho
e a seara penteada do teu riso
ondeia lentamente ao sol de Junho

vê que toda a noite fomos aves
que as minhas mãos espalharam sem saber
e no seu canto agora alegre e irreal
voltamos a ser homem e mulher

solta, meu amor, a ave nocturna
que ficou escondida no teu peito
entrancemos palavras e claros cestos
que a fruta do amor os encha
e nos alimente o dia luminoso e perfeito!



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