O menino estava no grande auditório, preso numa sessão solene que não compreendia, pois a única solenidade era para si o palrar alegre dos seus 4 anos. Mas tanto falou e se mexeu que a mesa começava já a lançar longos olhares na sua direcção. A mãe nada fazia além de rir, o que ainda reforçava mais o rebento.Todos já ríamos em redor do moçito que repetia: "Está bem, está bem!". Se calhar as suas palavras exactas mediam a vontade geral de que fosse já bastante o rosário de discursos. Mas ele continuou e eu lembrei-me do sol lá fora e das folhas de outono e desafiei-o , com o consentimento da mãe: "Queres ir lá para fora comigo?" Palavras mal eram ditas e ele que nos parte auditório abaixo, sem sequer se importar se o seguia., a rasgar já a liberdade que ambos havíamos de exercer lá fora, na faina de esmagar nas mãos as folhas secas, gostosamente, e de as pisar com gosto, sentindo-as em estalidos secos a ceder. Parecia o crepitar de um fogo atento ainda presente na cor fulva do seu ser inerte. As folhas secas, o fim da vida que tiveram, a falta de seiva, a face enrugada da natureza. Exorcizámos a morte, semeámos a vida. E ver a felicidade da sua carinha travessa? Sentir nas mãos e nos pés e no corpo a mensagem da natureza... quando todas as outras mensagens nos vêm já de sobejo, foi a lição que ambos aprendemos. Por vezes, era muito bom podermos todos dizer, como as crianças: "Está bem, está bem! Já chega!". E pisar as obrigações, com a mesma liberdade com que pisamos a viragem das estações.
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