13.10.08

contiguidade

chegar enfim a ti, como se acabasse de entrar e de fechar a porta sobre a nossa voz, ou sobre a tua boca. chegar semeada de penumbra ao quarto onde os olhos apenas servem de lampião e rumo. a pele que nos imola juntos, o roço e o friso dos corpos juntos. a casa estremunhada sem lacunas onde a fala nos fuja. detenho-me no fundo das tuas pupilas e adivinho-te, é como se um guindaste me sustivesse nas fragas fundas do pensamento. eu sei que é tarde, mas olha, aprendi a esquecer o medo, qualquer medo, a não temer a solidão, a desejar que venha este lugar de isolamento, onde ninguém mais se senta, a compreender a paz como um movimento interno, uma brisa comovente que me parece vir de sempre, desde que nos doámos anjos e serpentes. meu amor, esta carta vem tão cedo habitar-me, como se inadiável o sorriso branco, a letra escarlate, o aceno do sangue que ainda não se enaltece sem chegar a este ermo, a porta fechada sobre nós dois e nada entre nós e o sono, a palavra equivalente quase adormecida, teclas trocadas, imagens difusas, sensações infundadas, mas fundas, o teu arfar na minha casta pele, o mundo que se povoa de viço, de quanto mel a Lua tem e nos derrama, como a oficiar um feitiço. meu amor, cada palavra contém o meu mais infinito e puro momento, a entrega deste tempo que te faço, um ângulo íntimo, sem sentido, talvez vazio no seu ímpeto, mas para mim, que o vivi, perfeito, contigo. contíguo.

até amanhã

1 comentário:

  1. Olá querida Amiga Belíssimo texto... Maravilhoso!... Adorei!
    Beijinhos de carinho,
    Fernandinha

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