17.10.08

submersão

amor, meu amor, venho à pedra gritar suavemente o teu nome, para que me ouças no alvéolo da boca, na carnação de um olhar, no laranjal infinito que nos cresce.
sabe que agora o dia me atravessa longitudinalmente de mim mesma. sucumbe-me a noite aos pés do sono, sem hora para inventar o amor. tombo no sono dos justos, sem reacção, como quando na arena o lutador já não cuida de apupos ou ovações, nem de vozes, nem de ninguém e se deixa ficar onde caiu. metaforizo porque sei que só assim perceberás a inércia de uma mão estendida, em busca do amor e da palavra, com a palavra aparelhada nos lábios, mas impassivelmente calada, obstruída pelo atrito dos dias e horas que já foram. sabe que as noites se avolumam tantas vezes sem dormir de tanto atrito nos caminhos, de tanto cardo que não cabe na poesia ornamental do discurso amoroso. sabe que quando nao estou assinalada no mapa da tua noite, é quando o brilho mais me lavra dentro. fico presa ao sono, mas ancorada em ti, no que não fiz, nem disse, submersa pelo acto pendente, a boca incerta do que não exprimiu, sabendo exactamente o teor do discurso, claro e cristalino, sempre, porque rio de clara nascente. é duro sucumbir assim noite após noite. é claramente exaustão. se usássemos um filtro para a vida, que passaria para além do verbo do amor?

amor, meu amor, venho à pedra latente, emergente de mim mesma, reivindicando um espaço que me pertence. o espaço da minha própria e única existência, quando a purifico em ti. amor, meu amor, amanheço também nos sonhos que a noite me dita. fica o teu nome aceso, um neos a iluminar o cenário onde me abrigo, quando me apanha desprevenida o sono. amor, meu amor, eu às vezes não volto, mas quando fico, permaneço sempre no fundo mais intenso e férvido de ti!

boa noite...


2 comentários:

  1. Olá querida Amiga, belíssimas palavras de encantar... Parabéns!
    Beijinhos de carinho,
    Fernandinha

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  2. Obrigada, Fernandinha! É uma querida. Obrigada pela companhia e amizade expressa no comentário. Venha sempre. Gosto que venha!

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