"Ribeirinha"
Pintura de Rui Goulart
a arquitectura da palavra
a sua forma elíptica
ergue-se, em pele de granito,
alçada e firme
como uma figura mítica,
na selva da noite
adormecida...
impronunciada
porém silenciosamente dita
a palavra que cobre a distância
a maré que nos coabita
inamovível
a presença contida e constrita
absolvida na sua fala interior
há um diálogo inquieto
com a paz anoitecida
como se estar fosse um limbo
e nesse limbo a partida nos ficasse
ao centro a vida
a correr em corropio
sem sentido, mas sentida
o rio caudal e canto da manhã
a viagem sempre percorrida
e nós dois, meus amor,
o nunca que nos transita
para esse lado ocasional
onde esperamos um dia
transferir das veias para a vida
o sangue novo da chegada
em vez do sangue morno da partida...
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