9.12.08

onda de ar




corre um vento lesto e frio,
vítreo como um estilhaço
volumoso como onda de ar
um daqueles ventos que nos levam
e nos fariam voar se houvesse asas

gosto de ouvi-lo rumorejar
tanto que diz, quando está assim
fala de abrigos que esquecemos
de colos que já não temos
de dias antigos de rudes canseiras
de velhos e feixes de lenha
de cinzas a adejar na pedra da lereira

fala de amparo e de desamparo
cada ouvido lê o vento como quer
e eu gosto deste vento arrebatado
faz-me sentir viva e mulher

mas faz-me pensar no amor que nos quer deixar
e é como se um sopro fabuloso
viesse lembrar que a paisagem mais agreste
não é a que varre ruas e florestas
e faz abanar as persianas
mas sim a agrura que vive lentamente
quem acha que já não ama...

...



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